sábado, 31 de dezembro de 2011

Com você

Quando você me beija
Esses lábios tão quentes
Arrepiam a pele inteira
E eu já não me importo
Se já é segunda-feira

E eu já nem sei me esconder
Desses inúmeros enganos
Nem faço tolas confissões
Desse coração mascarado

Eu preciso gritar essa dor
Que isala do peito
Todos esses segredos
De quem não sabe o que é o amor

Todas essas músicas tocadas
Fazem sentido agora
E nesse clichê inventado
Esqueço da hora
Vá embora

Vá embora
Feche a porta
E me leve junto com você

Lembranças

Me diga que estamos indo para algum lugar onde poderemos descansar nas rochas que choram a solidão. Estaremos tão perto do sol, que sentirei a minha pele se derreter ao sutil toque de suas mãos - em minhas mãos.
Sua respiração ofegante me tira o sono nessas madrugadas que inspiram o fogo da matéria em meus sonhos - tão lúcidos. Alguém mais consegue sentir o que sinto ao lembrar dos seus olhos puxados num sorriso travado?
O céu amanhece mais uma vez, enquanto me percebo sozinha nessas madrugadas tão convidativas ao que espero viver - ao seu lado.
Essas xícaras vazias espalhadas pelo cômodo me mostram que há muito não tomo um gole de você.

Os pássaros cantam na esperança de me fazer dormir...
A lua se despede, e se vai, levando meus sorrisos junto a ela.

quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

As Escolhas

O céu se despede essa noite
As nuvens sussurram o que ninguém consegue ouvir
As flores se escondem da tempestade
Oh, para onde foi todo mundo?
Acho que estou asfixiada
Não posso parar
Já não sei o que digo
Escrever é a maldição
Dos que ainda temem
Alguma forma de salvação
Nosso tempo está acabando
As verdades estão nas entrelinhas
Afogadas no espírito que se foi
Aos 18 fui escolhida
A escolha de não pertencer
As palavras repetidas se encontram
Alguma forma de contradição
Tudo contra
Contra-indicação

Diga que já foi
Eu não quero ir
Estou me sufocando em todas essas decisões
O nosso tempo está acabando
O sol se foi para sempre
E a lua continua sorrindo

Você é a minha morte agora
Meu oxigênio que se foi
Meu tempo está acabando
E esses fios me fazem gritar
Não consigo me lembrar
Como é que tudo se transformou
No hoje.

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

A Canção do Avesso

Tenho andando por todos esses cantos, procurando o que já não sei buscar. O céu reclama constantemente que eu não sei amar.
Essas canções fazem sentido quando ouvidas ao contrário. Por que é que o mundo só funciona de frente?
O relógio do avesso me faz vibrar, meus sonhos já não sabem sonhar.
Todos me seguem nesse rumo infinito: já não sei onde quero chegar. Vamos cantar a canção da eternidade em toda essa podridão forjada.
Oh, você me faz cantar essa canção do avesso, baby.
Ninguém leva a sério quem nasceu para escrever. A vida só segue para quem sabe morrer.
Vamos nos alimentar de nós mesmos nesse eterno conto de fadas. Esse sentimento confuso que se instala em meu estômago sustenta esse canibalismo implantado.
Oh, você faz com que eu me coma, baby.
Por trás desses óculos escuros posso te ver sem que me veja. Seu olhar tritura a consciência dessa pobre alma infestada. Seus lábios invadem esses sonhos que molham a minha cama nas noites de solidão.
Boa noite. Ou não.

sábado, 17 de dezembro de 2011

Eu me fui há tanto tempo

Estou sempre nadando entre as ondas do mar, me afogando em todas essas questões que insistem em perseguir o espírito aflito.
Conte-me algum segredo, vamos respirar o ar que reservamos para esta noite. A lua está sempre presente nos momentos de dor. Já não sei o que faz continuar...
Vamos voltar para as estrelas, e sentir o perfume das nuvens que nos lembram os momentos em que sorríamos para o céu. Tanto tempo já se passou...
Essas máscaras fragmentadas se encolhem em meu peito: as lágrimas se dividem entre as falsas risadas.
Essas ondas me levam embora, e me devolvem para o mesmo lugar. Tantos caminhos deixei de seguir por medo de me perder, hoje prezo pelas chaves engolidas à força.

Olhe para mim. Olhe novamente. E quantas vezes forem necessárias.
Quantos suicídios bastam para a alma que renasce da carne?

Eu me fui há tanto tempo...
O céu sorriu para mim.

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Da Minha Janela

A janela do meu quarto sussurra
Já não quero me perder em seu sopro
Por tantas vezes me procurei lá fora
Em busca de minhas próprias respostas
Descobri o sorriso por dentro
O avesso da máscara que é
O que você não quer se tornar
Uma dose de ti, pra variar
Vamos devorar a nós mesmos
Um carnaval ensaiado
Que faz escorrer as lágrimas
As mesmas que se perderam
Nos sorrisos implantados
Os olhares já não se encontram
Na lua que nos deixou
A janela do meu quarto sussurra
Já não quero me perder em seu sopro
Por tantas vezes me procurei lá fora
Mas tudo que sinto é oco

O céu desabou essa noite
O choro cansado se despede das estrelas~~

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Uma dose de alienação, por favor

Ela se foi essa noite. Costumava ficar para um breve chá.
Seu perfume continua impregnado em minha carne, e eu me pergunto quando foi que te perdi de mim mesma.
Minha alma vaga pelos sete cantos do mundo em busca de respostas para as infinitas questões que se instalam no espírito perturbado.
A melodia escolhida guia as palavras que serão sentidas.

- Quer tomar sua dose de alienação hoje, senhor?
- Sim, por favor.
- Tudo bem, aqui está o seu jornal.
- Obrigado.

Acordei de um sonho.
As gaiolas atrapalhavam minhas asas de voar. Berrei num canto sofrido. Deram-me ração. Comi a ração. Deram-me água. Bebi a água. Continuei gritando o desespero de não voar. Perguntaram o que havia de errado comigo. Respondi que também gostaria de saber. Deram-me um jornal para ler. Defequei nele.
Abri os olhos.
O cheiro de café se espalhava pelos cômodos da casa, e me fez flutuar até o líquido que me faz continuar. O segredo da vida está no sabor das cores.
Sentei em minha cadeira de sempre, abri o jornal: Homem se afoga com o próprio vômito.
O conheci na noite passada. Homem de um metro e meio, barba e cabelo da cor do céu quando chove, trajava vestimentas rasgadas e um sorriso sem dente no rosto. Gritava na rua o desespero que sentia em assistir as almas das pessoas sendo sugadas constantemente, sem que ninguém notasse nada. Dizia sobre os planos que estavam sendo elaborados por trás das cortinas. Todos que o ouviam preferiam rir dos seus sapatos sem solas.
Parou ao lado dele, um homem alto, vestido todo de preto, usando um chapéu e fumando um charuto. Ordenou friamente que o homem parasse de dizer o que estava dizendo para as pessoas, ou então tiraria a vida dele sem pensar duas vezes. Disse que esse era o primeiro e último aviso que daria.

- Você sabe do poder das palavras, seu infeliz?, perguntou o homem de preto.
- Sei, sim. E por isso grito para que todos as ouçam., disse o homem barbudo.
- Você está escolhendo morrer?
- Estou escolhendo o que é certo. Prefiro morrer a viver uma vida calado com o medo de me tirarem a alma.
- A escolha é sua.
- Sempre foi.

É fácil enfiar vômito na garganta de quem foi sufocado pelas próprias escolhas. Você pode matar a carne, mas as idéias são eternas, senhor.
Suspeitavam, dizia o jornal, que a morte do homem era um suicídio bem feito.
O homem de preto sorria satisfeito em sua casa.

- Minhas pequenas marionetes.

Rasguei o jornal. E defequei nele.

sábado, 3 de dezembro de 2011

Até Quando?

- Por que sangras?
- Porque ninguém sorri.
- Eu sorrio.
- Não é o suficiente.

Os espelhos virados ao contrário escondem os segredos do universo. As noites inspiram o pior de mim.
Tentei olhar para você essa noite, mas seus olhos me queimaram com o fogo da sua alma incendiada. Seu sorriso me deixa tonta, e seus dentes me mostram o caminho que eu não deveria seguir. A porta errada é aquela que as noites reservam para mim.
Sua respiração ofegante me faz transpirar, e eu já não consigo lidar com as invenções da sua mente do avesso. As máscaras caem constantemente no desconhecido, e, dentro do espelho, me pergunto quem é você.
O sangue no seu olhar é a resposta para as minhas infinitas questões, e as nuvens me chamam para deitar por um segundo. As noites gritam o desespero de controlar-me.
As cadeiras e as mesas estão viradas de cabeça para baixo, e ando pisando no céu, admirando a terra acima da lua. Aceita um chá essa noite?

- Por que choras?
- Porque ninguém acredita.
- Eu acredito.
- Não é o suficiente.

O planeta gira em torno das almas aleijadas da falta do sentir. Todos forjam as canções de amor. Todos querem um pedaço seu. O que vamos jantar essa noite?

- Por que sentes?
- Porque ninguém enxerga.
- Eu enxergo.
- Ainda não é o suficiente.

O velho clichê se instala na alma que se contorce em suas verdades inventadas. As interrogações controlam os que possuem os mesmos pontos finais. Já não sei viver no seu mundo, já não sei dizer que quero mais.
Todos se despedaçam ao me comer... a carne envenenada nunca há de pertencer. O que vamos vomitar essa noite?

- Por que repetes?
- Porque ninguém compreende.
- Você não compreende.
- É o suficiente.

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Empty

I have strange feelings inside my soul
And my cup is empty now
Drink my blood
Like I know you do

Come back to the moon
And smile for the stars
I’m sick of all those people
Saying that we can’t be
What we are

Set the art free
And come back to believe
What you can’t see

Mundo Doente

- Você tem medo.
- Medo?
- É, medo. Medo de olhar nos meus olhos, de colocar a sua boca na minha, de se entregar aos meus braços que te deixa aquecida.
- Isso é ridículo, eu não tenho medo.
- Ah, não?
- Não.
- Então vem aqui.
- O quê?
- Vem aqui onde estou. Dê um passo para frente. Dê um passo.
- Eu...
- Está vendo? Você tem medo, e sente medo porque sabe que gosta de mim. Tem medo do efeito que causo em seu coração, dos arrepios, dos olhares... Você tem medo de gostar.
- (...)
- Medo de sorrir por outro sorriso, de se envergonhar com um sincero elogio, de querer ser protegida, de se sentir segura ao meu lado, do adeus que pode acontecer.
- Eu não gosto de adeus.
- Claro que não gosta. Você sente medo. Medo de se entregar como se entregou no passado e ter o orgulho novamente destruído e triturado em pedaços. Medo de se reencontrar com o tão conhecido abandono, que aprendeu a aceitar desde os seus três anos de idade.
- Eu não gosto do passado.
- Ninguém gosta do passado.
- Eu também não gosto do presente.
- Ninguém gosta do presente também.
- Também não gosto do sol. Ele derrete as memórias que congelei no tempo.
- Eu gosto do sol. Ele aquece as memórias que congelam no tempo.
- Eu não gosto de sentir.
- Eu gosto de te sentir.

O medo não permite sentir
As rosas choram as vidas que se foram
O poeta deixou de escrever os versos
Que lembram você
Nos deram espelhos
E vimos um mundo doente
Tentei chorar
E não consegui.¹


¹RUSSO, Renato. Índios. Legião Urbana.