quarta-feira, 30 de novembro de 2011

O Segredo

Ela me contou um segredo essa noite.
Seus cabelos escuros encostaram em meu rosto, que tremeu com o toque gelado. Todos estão mortos enquanto respiram, congelados pelo pacto jurado.
Sinto que a hora se aproxima, e o desespero congela o coração que acredita. Todos vivem as horas, inconscientes do que aceitam sem ver.
“Você precisa voltar de onde veio para chegar onde quer estar”, disse-me ela, baixinho.
As palavras se instalam em meu espírito, que grita sufocado o que ninguém quer saber. Todos seguem as regras, e ninguém sabe viver.
Meus sentimentos dominam minha mente quando os redemoinhos se abrigam em meu ser. Meus olhos enxergam o que ninguém mais quer ver.
As rimas fazem da verdade uma obra de arte, e todos contemplam os sentimentos dos que gritam nas entrelinhas o desespero dos que sabem. A criatividade existe para aqueles que sabem voar.
“Você precisa ir para poder voltar”, ela soprou em meu ouvido.
As fogueiras queimaram minhas mentiras em busca de algum momento de lucidez. Minhas questões se transformam em loucura a cada dia, e meu sono se transporta para o universo desconhecido, criado pelas minhas interrogações.
As palavras ecoam em minha mente, e eu só quero acordar deste sonho constante. Nada do que vê é real, nada que pertence é imortal.
Estou sentindo estranhos sentimentos essa noite. Meus dedos teclam sozinhos o clichê trancafiado em minha alma. Minha boca sorri a leveza dos movimentos, que resultam em mais interrogações. O diagnóstico da loucura é feito para aqueles que sabem sentir.
Já não me sinto como antes, e meu corpo dói por ser o atraso no fluxo. Minha energia é cuspida pelos que controlam o ser. Corto todos os dias os fios que me ligam ao contrário.
Suspiro com um adeus eterno, que surgirá novamente pela manhã.
Ela me contou um segredo essa noite: as xícaras fazem sentido quando estão vazias.

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Se você enxergar como eu

Ela se afogou no mar há algum tempo atrás. Seus cabelos presos no ralo do banheiro reforçam a prova do que foi afirmado. Cansada de nadar, suas pernas já não se mexem mais.
Eu poderia explicar a vocês, mas não.
Existem redemoinhos rodando em minha mente, implantados pelos que nos afogam na água do mar. A banheira está me chamando para um banho quente: acho que terei de recusar.
Os peixes nadam em meu sangue. Oh, não me faça cócegas essa noite.
Todos querem um pedaço da carne que acredita.
A vida é apenas uma melodia a ser cantada, que eu canto para espantar a podridão da alma infestada.
Onde está você agora? Oh, não me diga que ela se foi.
As noites levam todos os que sofrem embora.
A vida é apenas uma canção boba se você enxergar como eu.
Feche os olhos e verá como eu vejo.
Estamos apenas eu e você essa noite. Onde está você agora?
Há muito deixei de ser eu para só ser, e brigo todos os dias para viver a canção que todos estão cantando em conjunto.
Por que todos cantam sem som?
O filme em preto e branco enfeita a vida que se leva sem cor.
Existem redemoinhos rodando em minha mente. Enjoei de girar no carrossel.
A vida é uma roda gigante onde tudo gira se você ver como eu.
Faça-me acreditar que a vida sorri para os que cantam as cores.
Oh, para onde vai essa noite?
A lua se escondeu atrás das nuvens, e as nuvens se esconderam no céu.
Seus olhos não enxergam os meus olhos. Seu sorriso já não brilha mais.
Todos cantam a canção sem som.
Minha alma está presa na carne sem melodia.
As cores se foram sem dizer adeus.
Os jornais noticiaram que ela se afogou no mar. Seus cabelos presos no ralo do banheiro são as provas encontradas. Todos dizem “Sim” sem dizer, e todos concordam com o que não aconteceu.
Ela canta a canção que colore a cidade, mas todos estão lendo os jornais em preto e branco, cantando a canção sem som que todos cantam em conjunto.
Existem redemoinhos rodando em minha mente, e a vida é apenas uma canção boba se você enxergar como eu. Feche os olhos, e verá como eu vejo.
As noites levam os que sofrem embora, e todos lêem o jornal, concordando com o que não aconteceu.
Ela saiu do mar aquela noite.

A vida é apenas uma melodia a ser cantada, então porque ninguém está cantando ao meu lado?

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

E Se?

E se o céu fosse uma fantasia?
E o mundo, sempre calado
Não mais, eu não poderia
E se todos fossem as próprias máscaras?
A existência sofre a abstinência
Mentiras tão carentes
Daqueles, apenas sobreviventes
E se eu já não pudesse?
A morte tão distante, ao meu lado
Trazendo o vento que sopra
Para aquele que espera, tão calado

A falta da respiração; O medo da escuridão; A arte que se despediu; O sorriso que não sorriu; As orações perdidas; A espera de outras vidas; As fotografias não tiradas; As peles rasgadas; O perfume que não sentiu; O filho que não pariu; A carruagem quebrada; A maquiagem borrada; A voz que se calou; O amor que se deixou.

O ciclo vicioso
O padrão que se estabeleceu
Vamos fugir, baby?
Um novo mundo, um novo eu.

As nuvens desenharam minha alma
Eu sorri~~

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Tão Só

O luar cria as palavras
Te rouba a inspiração
Deixando-te só
Eu e minha respiração
Todos os dias imagino o que será
Ao dormir, nunca foi
O barulho do ponteiro sempre está
As horas passam em uma mesa de bar

Vamos enlouquecer mais um pouco?
Lembrar o que nunca fomos
As luzes cegam a criação
Para onde foram as estrelas essa noite?
As cores sempre tão fracas
A visão tão manchada
O eterno porre de ser

Abra os seus olhos para abrir os meus olhos
A verdade me guiou até aqui
Mergulhada em minhas fantasias inventadas
Continuo pertencendo onde nunca fui
A visão sempre tão manchada
Oh, você está se perdendo, garota
Volte, vá, jamais fique onde está
Vá, volte.

Os rios que seus olhos choram
Hoje afogam minha alma
A podridão da carne fria
Oh, você está se perdendo, garota
Sol, para onde se foi essa noite?
O coração chora o brilho que se foi
O luar cria as palavras
Me rouba a inspiração
Deixando-me só: eu e minha respiração

sábado, 5 de novembro de 2011

Ao Contrário

A garota dentro do espelho me observa
Cantando as músicas implantadas
Seus olhos arrancados pelo ódio
Ela chora o pacto de não pertencer
Deseja o sangue que escorre da alma
A alma recolhida que hoje sofre ao contrário
O avesso de ser
As máscaras rasgam as entranhas
Dos que apenas desejam voar
As estrelas se esconderam nas nuvens
O céu está nu
Chorando o que não aconteceu
Esperando o que acontecerá
Os sorrisos apagados
Me alertam a sua chegada
O despreparo me enfrenta
Todos os dias sangro por ser
A escolha no infinito
Presa em meu clichê
O grito rasga a alma
Que alerta o eterno adeus do sol
Que se despede sem um beijo
Em seus acenos de não-vá-embora

Fique,
Estamos só nós dois agora: eu e minha utopia

Lembranças Inventadas

Aquele trem levou meu ar junto ao seu
Meu aceno se perdeu nas nuvens
Desenhando as lágrimas que escorrem
Colorindo a matéria em cinzas

Os pássaros continuam na janela
E as canções do sul ecoam no meu coração
Me lembrando o que não acontecerá
O sentimento que corrói as entranhas
Agora se foi
Levando embora o cheiro que me consolava
E me colocava a sonhar

Para onde foi que não vejo?
As árvores estão cortadas
E o sol se põe todos os dias
Me deixando aqui, só
Inventando minhas lembranças

As estrelas brilharam essa noite~~