segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Corte ou Corte-se

Quando encontrá-lo, sugarei todo o vazio que reside em sua alma. Esse buraco que te sufoca e faz seu coração parar de pulsar por um segundo, que é quando você reza para que ele pare o suficiente, e te deixe ir embora de uma vez por todas.
Te vejo sorrindo em meus sonhos. Um sorriso fraco, sem luz.
Eu te construí assim.
Talvez para que eu possa te salvar, ou apenas me salvar de mim mesma.
Quando te vejo, é quando me enxergo...
São pedaços retirados daqui de dentro.
Pedaços da podridão que insiste em pregar e me atinge dia após dia.
Mesmo com a Lei Áurea, somos todos escravos de algum Senhor nesse mundo.
Senhor da terra, Senhor do mar.
Senhor dos Senhores, Senhor de nada.
Não, senhor.
Te construo todos os dias, despachando todo o meu lixo em você, e a cada sonho, uma nova sujeira.
Um monstro feito de nada, pelo Senhor de nada.
Você se deixa levar pelos fios que te controlam.
Você chora, grita, reclama. Você não faz nada.
Você observa os fios te levarem para onde não quer ir, e faz o que não quer fazer.
Você diz que é revolução, que é livre, que é o sol e a lua.
Você diz ser tudo, quando na verdade é o nada, controlado pelo Senhor de nada.
Somos marionetes controladas por nós mesmos.
Marionetes em busca de liberdade, no jardim da salvação.
Para ser salvo de nada, no nada.
Marionetes pensando todo esse tempo que este seria o século do livre arbítrio.
Corte, ou corte-se.

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Para Não Me Sufocar

Há muito quero escrever para você.
Me desculpe por ter demorado tanto.
Às vezes, eu ainda nem acredito; e às vezes, acredito até demais.
Me pergunto se está viajando como de costume, se está apenas fugindo.
Hoje durmo no canto que costumava ser seu. Às vezes toco em algum lugar da parede, apenas para sentir você, pois sei que já tocou ali também.

A vida inteira eu gritei por socorro, você sabe.
Você sempre correu em minha direção.
Nunca soube se te chamava de Pai ou de Mãe... Hoje sei quem você foi.
Você foi o que sempre vai ser.
Não é verdade quando dizem que não deixou um legado, pois eu sempre estarei ocupando esse lugar. A vida fez com que eu me tornasse um pedaço seu.
Quantas vezes você me salvou?
Quantas vezes se preocupou?
Quantos segredos levou com você?
Meu coração dói de saudade, da falta que você me faz.
Eram tantos planos que eu tinha em mente...
Eu tinha tanta certeza.
Me desculpe, eu não pude fazer nada.

Ouço os pássaros todos os dias. Às vezes sinto que eles estão em minha janela para me acordar, assim como você fazia, cantarolando suas musiquinhas idiotas para me irritar. Às vezes os pássaros me irritam.
Às vezes sinto que devo ir lá fora assistir o sol nascer, e então os pássaros aparecem novamente. Me pergunto se um deles é você...
Charles Chaplin comendo a bota e sugando os cadarços como se fossem macarronada é o nosso clássico. Daria tudo para que você lesse as legendas para mim novamente.

Aquele dia eu senti que seria nosso último abraço. Uma despedida.
Me desculpe ter ido embora tão rápido, eu só queria que aquele momento acabasse logo. Eu nunca soube lidar com os meus sentimentos.
Eu só queria te ver mais uma vez. Te abraçar mais uma vez. Olhar os pássaros juntos por mais um minuto. Ver você tossir de tanto rir de alguma besteira que eu tenha dito. Só te ver mais uma vez.
Às vezes me pergunto se Jesus te deu os meus recados. Não me leve a mal, sei que Ele deu... Mas é tão estranho não receber uma resposta.
Eu só queria te ver mais uma vez.

Eu ainda estou aqui, pulsando. Espero pelo dia que nos encontraremos novamente.
Mas enquanto esse dia não chega, vamos voando por aí, como os pássaros que você tanto admirou e citou a vida inteira.
Saiba que eu te amo eternamente, e espero sempre pela hora de ir dormir, na esperança de que você me visite em meus sonhos.
Te encontro em meus sonhos.
Descanse em paz.

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Meu Próprio Caos

As cortinas foram rasgadas, e a janela está aberta.
O vento me susurra o que aconteceu.
Tudo revirado, mas a cama continua intacta.
Eu daria tudo para jogar esses lençóis no chão.
Olho para cima em busca de respostas, e a roupa íntima continua pendurada no ventilador.
O buraco no meu estômago se expandiu, já o sinto em meu crânio. Tento preencher o vazio que me toma a alma, mas tudo que posso é fechar os olhos, e fugir.

Abro os meus olhos e me pergunto que lugar estou. Vejo cordas penduradas, e sinto meus braços se mexerem contra a minha vontade.
Estou dançando. Quero parar, mas não consigo.
Meus impulsos não existem, mas ainda sinto o sangue borbulhar.
Meus olhos procuram por alguém. Estou sozinha.
Minha boca se abre e diz palavras sem sentido. As cordas fazem com que minha cabeça balance para cima e para baixo.
Sim.
Não sei onde estou, nem o que estou fazendo. Quero gritar, mas toda a força que faço só serve para que eu cuspa um bocado de sangue.
Forço as pernas a procurarem por uma saída, ou talvez uma explicação, mas tudo que encontro é um espelho.
"Quem é você?", eu pensei.
Sou eu.
Os olhos abertos como os de um gato, as bochechas e o lábio pintados de rosa. Sou um palhaço.
"Mas o que é isso?", me perguntei.
São fios. Cordas.
Comecei a dançar novamente. Eu não quero dançar. Não consigo parar.
Eu não me controlo mais, estou presa em meu próprio mundo. Sou extrangeira da irrealidade que criei. Sou a marionete controlada por cordas, por mim mesma.
Olho para o lado, assustada, e encontro uma tesoura.
Cortar. Cortar para me libertar.
Com muito esforço, pego a tesoura e corto os fios que me controlam.
Estou livre.
Estou livre?
Começo a dançar novamente. Eu não quero dançar.
Procuro pelos fios, e eles não existem mais.
Não tem fim.
Pego a tesoura novamente e a aponto para os meus olhos.

Abro os olhos. Suspiro de alívio.
Procuro pelo espelho.
"Sou eu denovo", pensei sorrindo.
Começo a dançar. Eu não quero dançar.
Oh, não.
Procuro pelos fios. Eles não estão mais lá.
Ergo meus braços em busca de socorro, sinto alguma coisa ao passá-los pelo ar.
Fios. Cordas.
Invisíveis.
Fecho os olhos para acordar novamente, mas tudo continua igual.
Controlada pelo inconsciente, conscientemente controlada.

As cortinas foram rasgadas, e a janela está aberta.
O vento me susurra o que aconteceu.
Tudo revirado, mas os lençóis estão no chão agora.