segunda-feira, 28 de maio de 2012

E onde chegamos, afinal?

E onde chegamos, afinal? As luzes se apagam no fim do túnel, e borrões atormentam minha mente - ausente do brilho impedido pela própria cegueira. Tantas constantes perguntas se formulam, já não sei quem escreve por meio desta frágil carne. Tantas almas nascem pelas sementes paridas nas palavras. Abandonados pelo singular, passivos de um plural sem sonhos.
Meu espírito viaja por esses lugares desconhecidos, talvez em busca de sentido, talvez em busca de nada. Perdida dentro de meu próprio labirinto, choro as lágrimas secas que insistem em não cair. As noites sufocam meus seres, sublimados pela arte fingida que insiste em se criar:  pseudônimos de um nome só. Oh, não.
Tantas interrogações se expõem nos quadros, artistas em desespero de criar o pensar, frustrados pela ausência coletiva do sentir em sociedades que se anulam por um pedaço de papel. Cadê você, e cadê Eu?
(...) E onde chegamos, afinal?

As noites inspiram o vômito de um insight qualquer.

terça-feira, 22 de maio de 2012

Essa Não é Mais Uma Carta de Amor

A observei no banco da praça. Seu balanço lento com os olhos fechados salientou a música calma que cantava em seus ouvidos. As roupas escuras, o cabelo escondendo uma parte do rosto, fazendo, involuntariamente, a imagem observada se parecer com um poema sombrio de Allan Poe. Era possível se encontrar com algumas lágrimas, se não piscasse os olhos e estas se perdessem com o gesto rápido em que ela passava a mão no rosto, tentando encobrir a visível infelicidade com um olhar frio. Uma idosa vestida de veludo vermelho vibrante, com batom igualmente intenso, passa por ela, cumprimentando-a de modo gentil, e ela, ainda coberta com os cabelos no rosto, se endireita no banco, projetando um movimento nos gestos tensos de um sorriso congelado. O vento frio movimenta suas feições, fazendo com que ela se encolha num abraço solitário. As lágrimas continuam a cair de seus olhos, como cachoeiras violentas que se movimentam ao encontrar com a água parada.
A narração real de um encontro de si próprio interfere no tom poético que as palavras escritas poderiam rumar. Escrever é um dom que se encontra naqueles que sabem chorar. O que são as histórias narradas, senão ficções de nossas próprias vidas, protagonizadas por pássaros que cantam lindamente na janela, quando, no mundo real, queremos mesmo é tacar uma pedra para que os mesmos se assustem, e se coloquem a voar por outras janelas, por favor. O sol machuca meus olhos casados com a luz do luar. Como foi que chegamos até aqui? Me fui de onde deveria voltar. Me tornei a escolha da qual se deve negar.
Sentada num balanço lento com os olhos abertos, saliento a música aconchegante que me faz companhia nessa madrugada. As roupas claras, o cabelo preso para trás envolvendo o rosto - todo à mostra -, fazendo, voluntariamente, a imagem propriamente observada se parecer com uma canção de Kurt Cobain. Polly wants a cracker, I think I should get off her first. Há muito as lágrimas secaram, deixando a passividade impaciente ocupar o seu lugar. Ninguém por perto, apenas a cotidiana solidão de mais uma noite na vida daquela que se encontra sentada no banco da praça quando fecha os olhos.

Nossos olhos selam um pacto,
Ausente de palavras,
Assisto-me em estranha epifania,
Ainda que escassa de coragem.